Pele de foca
Conto tradicional inuíte, recontado por Tim Bowley em Não há como escapar
Movido por uma força maior que ele, o homem continuou a remar silenciosamente. Chegou à ilha e escondeu-se entre as rochas. Ao fazê-lo tropeçou em qualquer coisa que estava no chão. Pegou na coisa e escondeu-a na sua parca. Pouco tempo depois as mulheres terminaram a dança e cada uma delas pegou numa trouxa que sacudiu, revelando peles de foca. Cada uma vestiu a sua pele, e elas saltaram para a água. Todas exceto uma, a mais bonita de todas, que procurava desesperadamente qualquer coisas por entre as rochas.
A certa altura o homem levantou-se e disse:
— Mulher, sou um homem solitário. Vem viver comigo e sê minha esposa.
— Não posso viver contigo! Sou das outras criaturas!
— Mulher, vem viver comigo. Daqui a sete anos devolver-te-ei a tua pele e depois poderás escolher entre ficar comigo ou regressar à água.
Como não tinha opção, a mulher foi com ele e pouco tempo depois deu à luz um filho a quem chamaram Ooruk. Ooruk foi crescendo e a mãe contava-lhe histórias da vida no oceano. Ela talhava animais do mar para ele brincar e ensinava-lhe as estrelas, dando a cada constelação o nome de um peixe.
Mas os anos foram passando e a mulher começou a perder a saúde. O cabelo caiu-lhe, os olhos ficaram turvos e começou a coxear. Certa noite Ooruk acordou com o barulho dos pais a discutir.
— Os sete anos já passaram! – gritava a mãe. – Tu prometeste devolver-me a pele!
— Não! Não! – gritava o pai. – Se o fizer tu abandonas-me a mim e ao nosso filho, e eu não suportaria isso!
— Não sei o que faria. Só sei que aqui estou a morrer.
Ooruk adormeceu, mas acordou a ouvir chamar pelo seu nome, e era como se o próprio mar o estivesse a chamar.
«OOruk! Ooruk! Ooruk!»
Ele saltou da cama, enfiou as botas e a parca e correu para a praia. Quando l´+a chegou viu uma velha foca-macho a rebolar-se na água e a olhar para ele. Depois tropeçou em qualquer coisa que estava escondida nas rochas. Pegou nela e percebeu imediatamente que era a pele da mãe, pois tinha o cheiro dela.
Voltou a correr a casa e deu-lha. Os dois voltaram à praia mas, ao ver a mãe vestir a pele, o medo apoderou-se de Ooruk.
— Não me deixes! – gritou.
Ela olhou para ele com um amor profundo nos olhos. Pegou-lhe com as barbatanas, soprou-lhe na boca, e depois saltou com ele para dentro de água. Emergiram numa caverna cheia de focas, onde estava, sentada numa rocha, a velha foca que ele tinha visto antes. A sua mãe aproximou-se dela.
— Como vão as coisas no mundo lá em cima? – perguntou a foca mais velha.
— Mal, pai. Magoei um homem que me amava mas eu não podia ficar lá, porque estava a morrer.
— E o rapaz? – perguntou a foca mais velha, apontando para Ooruk. – Ele vem viver connosco?
— Não – disse ela. – Ele pertence às outras criaturas e tem de regressar. Mas deixa-o passar algum tempo connosco, para aprender os nossos costumes.
E, assim, Ooruk viveu algum tempo com as focas e aprendeu as suas canções e histórias. Numa noite de lua cheia, o avô e a mãe nadaram com ele até à costa.
— Ooruk – disse a mãe – basta que toques nos animais que eu talhei para ti, e eu estarei contigo.
Então Ooruk beijou as duas focas e pisou terra firme.
Ele cresceu e veio a ser um grande cantor e contador de histórias entre a sua gente., e muitas noites era avista ao longe, no mar, inclinado na borda da sua canoa, a conversar com uma foca «A Brilhante» e, embora muitos tenham tentado, nunca ninguém conseguiu apanhá-la.
Esta história dá que pensar! A mulher foca deveria ter ficado em terra com o marido e o filho? Porquê?
O pescador agiu bem quando escondeu a pele e quis que a mulher-foca se casasse com ele? Porquê?
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