segunda-feira, 25 de maio de 2020

Novo desafio de escrita... Desculpa!!!

Lamentamos, mas não aceitamos mais pedidos de desculpa.

Deixamos aqui as contribuições da Leonor e do Simão.

Pedido de Desculpa, sem dizer Não nem Desculpa!
«    - Frederica, tirei-te o chupa-chupa de morango, sem pedir a ninguém! Foi uma atitude má! Perdoas-me? Posso dar-te um abracinho?»


Simão Dias Novais
1ºB
Centro Escolar do Pontal









quinta-feira, 14 de maio de 2020

Trabalhos das turmas A, C e E do 1.º Ano: Dia da Terra, Ciclo da Água e Geometria

O que é que se há de fazer em tempos de pandemia? 
Vamos transformar os problemas em oportunidades!


Como é que havemos de dar as matérias? 
Motivando, explicando, pesquisando...


Será que os alunos vão aprender o que deviam?
O que é que vos parece?...



Clique sobre as imagens para ver os trabalhos










terça-feira, 5 de maio de 2020

Para leres no regresso à Biblioteca - "Aventuras da Engrácia", de Maria Alberta Menéres

Aventuras da Engrácia, 1985
Maria Alberta Menéres (1930-2019)


Esta é a história que encerra o livro de Maria Alberta Menéres. Relata um episódio cruel que pode causar estranheza aos modernos habitantes das cidades, mas que não é estranho a quem viveu nas áreas rurais.
Este episódio cruel tem como desfecho um ato de compaixão, de arrependimento e de amor com que nasce a consciência ecológica e moral da Engrácia.
Maria Alberta Menéres soube sempre tratar as crianças como pessoas, escrevendo num discurso divertido e acessível, mas sem as infantilizar. Foi mestre dos ofícios de escrever e de ensinar.




«A Engrácia agora até se arrepia quando se recorda da história dos passarinhos. 
Para dizer a verdade, só lhe vem à memória essa tal história quando à tardinha se vai sentar debaixo da velha tília que está ao fundo do quintal da sua casa. Mesmo lá ao fundo.
Há muita gente que acha que estas histórias que arrepiam não são para recordar e muito menos para se contar.
Eu não concordo com tal atitude pois me parece que tudo o que acontece como esta história aconteceu poderá ter aproveitamento para alguém. Que aproveitamento, não sei bem. Só sei que não me vou ralar com isso.
Posto o caso desta maneira, vamos voltar aos arrepios da Engrácia e à idade remota dos seus 6 anos.

Ao fundo do quintal, logo a seguir ao canteiro das minhocas, havia uma capoeira. Perdão, duas capoeiras.
Uma era a capoeira propriamente dita e a outra não era uma capoeira propriamente dita.
A capoeira propriamente dita tinha galinhas, um galo e dois perus. Era porém difícil dizer com toda a certeza quantas galinhas tinha, porque como estavam sempre a entrar e a sair por um buraco que dava para o ninho onde punham os ovos, a Engrácia passava a vida a enganar-se na conta, quando as queria contar, acabando sempre por desistir de tal tarefa.
Nesta capoeira também havia um pato, uma para e três patinhos feios que andavam sempre atrás uma dos outros como convinha, em seu andar desajeitado.
Mas deles não reza está história.
Nem deles nem dos outros habitantes desta capoeira que era a capoeira propriamente dita, como já se disse.

Onde a história cruel se vão desenrolar é na outra capoeira: naquela que, ainda não explicámos mas já vamos explicar, não era uma capoeira propriamente dita.

Mas tratava-se realmente de uma antiga capoeira. Agora desabitada. Sempre de porta aberta.
Todos os dias, ao cair da tarde, era espantosa a chilreada dos pássaros em volta das árvores do quintal. Havia alguns que, mais distraídos ou mais buliçosos, se enganavam e sem querer entravam pela porta escancarada desta antiga capoeira.
Certamente muito admirados, iam bater, quer dizer, embater nas paredes de arame entrançado de que ela era feita e que, assim, de um momento para o outro, se transformavam»as paredes de uma grande gaiola, ao ar livre.
Mas livre já não era o ar que eles respiravam.
Como sair de tamanha gaiola?

Atordoados e desnorteados, os passarinhos não davam nunca com a velha porta aberta, ela nem sabia que a porta ali continuava aberta e que se não se enervassem poderiam sair por ela tão facilmente como tinham entrado.
Eles nem sabiam que o podiam saber.

Ora no dia em que a Engrácia fizera 6 anos, muitas crianças cirandavam por ali, em leves brincadeiras.
A certa altura, não se sabe quem é que teve a ideia. Mas que foi uma ideia contagiosa, ninguém o poderia negar.

Primeiro, a algazarra de entrar na velha capoeira para a agarrar os passarinhos, que mais pareciam pequenos pardais.
(...) 
Entrou naquela espécie de gaiola gigante onde a chilreada era quase tão forte como a que atroava os ares do lado de fora, no alto das árvores grandes do quintal.
"Ontem foi divertido!" - pensou ela. - "Vou apanhar mais pardais."
Não foi nada difícil: logo agarrou um pardal pequenino que desorientado se debatia de encontro às paredes de arame frio.
"Já agarrei um!" - gritou para si própria.
"Vou torcer-lhe o pescoço! Não custa nada."
Pôs as mãos atrás das costas. 
E foi quando se lembrou: mas que disparate! Porquê as mãos atrás das costas?!
"Vou torcer-lhe o pescoço, sem ser com as mãos atrás das costas! Quero ver tudo.
E viu perfeitamente o pequeno pardal que nem tentava fugir das suas mãos fechadas. Que só piava baixinho.
Olhou para os seus olhos. Para o seu bico entreaberto. Para as penas cinzentas que estremeciam. 
Aninhou-o de.encontro ao peito e saiu a correr para o ar livre.
Cá fora, largou-o no ar.

E poderia ter terminado aqui está história, agora mais alegre. Mas ainda não terminou.
Falta dizer que a partir deste dia, a brincadeira passou a ser outra: todos os dias ao cair da tarde, a Engrácia começou a ir àquela capoeira, que não era uma capoeira propriamente dita, só para agarrar os passarinhos atordoados que nela tinham entrado por distração e dela não eram capazes de sair. E ao largá-los no ar livre dava-lhes cada raspanete que só visto!

Nunca contou nada disto a ninguém.

Agora que já é bastante mais crescida, já percebe muitas coisas que antigamente lhe pareciam complicadas. Uma delas é que não prestam as cenas passadas dentro das mãos atrás das costas. Porque o que nós queremos esconder de nós próprios, nunca fica escondido.
(...)»



sábado, 2 de maio de 2020

Para leres mais no regresso à Biblioteca: "O homem de água", de Ivo Rosati


O homem de água (excerto)

 

Neste conto de Ivo Rosati, as pessoas comuns são mais rápidas a julgar do que a observar e compreender uma pessoa nova e estranha que, subitamente, aparece na cidade onde moram. Seja por medo ou por preconceito, não reparam nas acções generosas do forasteiro e repudiam-no. Apenas outras criaturas solitárias, como ele, são capazes de o aceitar e de lhe mostrar gratidão.




 Autor: Ivo Rosati

Ilustrações: Gabriel Pacheco

Tradução: Elisabete Ramos

Editora: Kalandraka, 2009




«Alguém tinha deixado a torneira aberta.
O dono da casa nunca mais voltou, sabe-se lá por onde andaria. Talvez tivesse ido para as ilhas Fiji; às tantas andava em busca de fortuna nas minas de ouro azul que dizem que há em África.
Por fim, aconteceu que a água, ao acumular-se, transbordar, derramar-se por todo o lado, fez nascer um homem, um homem azul, transparente e cristalino.

Um homem de água.

Um homem de água que, com a última gota, a que lhe formou a madeixa de cabelo ondulada a meio da testa, de repente se pôs em pé e saltou para fora do lavatório dizendo:
— Mas o que é que se passa aqui?
Desceu as escadas e foi para a rua, para voltar ao mar ou ao lago, junto de um canal.
Quem o via, confundia-o com uma poça, com uma fonte, com um reflexo de água ou até mesmo com uma alucinação.
— Desculpe, para onde é que o senho vai?
— Vou dar um passeio – respondia.
So que não pode andar por aí a molhar tudo, é ilegal!
— Mas como? Eu sou assim!
— Chamem a polícia – gritavam as pessoas –, lá vai esse, que é feito de água e que anda por aí a salpicar tudo.
A porteira do prédio perseguia-o porque lhe tinha inundado a entrada e um senhor brandia um guarda-chuva dizendo que este lhe tinha espirrado para cima para o afogar.
— Sim, sim, uma onda de seis metros de altura, como as que se vêem nos iunaitedsteitsofsmerica.
— Tape-se – diziam-lhe –, vista-se, tente congelar-se, talvez assim se torne uma pessoa normal.
Entretanto, ele continuava a a passear, silencioso, de noite, junto às paredes, às vezes regando as flores.
Ajudava os automobilistas que tinham os vidros sujos, e eles saudavam-no com um aceno.
Deixava-se lamber pelos cães, enchia as garrafas vazias dos vagabundos e das pessoas que tinham sede…
Nunca tinha fome, nunca tinha sede, não sentia necessidade de dormir, nem sequer sabia o que era “dormir”.
Não precisava de fazer xixi nem de lavar os pés.
Quem se cruzava com ele apontava-o, dizendo:
— É ele, é ele, chamem a polícia
— É o homem de água, chamem um canalizador, ou tragam um balde.
Quando isto acontecia, ele procurava uma poça, um regato, uma conduta, metia-se ali dentro e desaparecia, misturado com a água.
Quando tudo ficava mais calmo, voltava a si, recompunha-se saindo da água, pingando bocadinhos de plástico e detritos, cascalho e pastilhas elásticas. (…)»